O Valor da Verdade
- Najla Campos
- 27 de ago. de 2024
- 2 min de leitura
Hoje, no mundo, a verdade está valendo muito pouco.

As pessoas não são mais valorizadas pela verdade. Elas são valorizadas pelo que elas supostamente aparentam ter, ou supostamente aparentam ser.
Não importa se determinada pessoa tem alguma coisa. Basta aparentar que já é suficiente.
Em tempos recentes, a necessidade de ser visto — ampliada pelas redes sociais, pelo marketing pessoal e por modelos de sucesso muitas vezes inatingíveis — tem colocado uma nova moeda em circulação: o valor de parecer ser ou ter algo, em detrimento de ser algo de fato.
Pessoas são frequentemente mais valorizadas por aquilo que aparentam possuir — status, bens, beleza, influência — do que por sua autenticidade, caráter ou verdade interior. Essa inversão de valores, embora culturalmente reforçada, tem implicações severas para a saúde mental individual e coletiva.
Quando o valor de uma pessoa é medido pela aparência de sucesso, cria-se uma identidade externa — uma espécie de “persona” — que muitas vezes está desconectada do eu real. Esse descompasso entre o que se mostra e o que se é, pode gerar sintomas profundos de alienação de si, levando a sentimentos de vazio, confusão existencial e baixa autoestima.
A busca por aprovação social com base em aparências coloca o indivíduo em um ciclo constante de comparação, onde o "valor" próprio é sempre relativo ao que o outro aparenta. Isso favorece o surgimento de quadros de ansiedade, depressão e transtornos de imagem, especialmente entre pessoas expostas à lógica métrica das redes sociais, onde cada “like” valida ou invalida a existência.
Há uma pressão interna e social crescente para performar felicidade, sucesso e plenitude, ainda que essa realidade interna seja de sofrimento ou insegurança.
Já tive clientes que relatavam, em ambiente terapêutico, o cansaço de “viver para os outros” — como se a vida real fosse apenas um ensaio para o que se mostra publicamente. Essa desconexão favorece estados de exaustão emocional, podendo desencadear transtornos emocionais, na vida pessoal.
A verdade pessoal — ou seja, o reconhecimento e a aceitação genuína de quem se é, com limites, contradições e imperfeições — é um pilar essencial da saúde mental.
Quando essa verdade não é valorizada socialmente, mas sim anulada para dar lugar ao uso de "máscaras", o indivíduo perde sua base interna de regulação emocional, o que pode levar a crises de identidade, angústia existencial e rupturas nos relacionamentos.
A valorização do ter sobre o ser, mina também a profundidade das relações humanas. Em vez de vínculos baseados em afeto, confiança e autenticidade, temos relações utilitárias, baseadas em imagem, conveniência ou status. Isso gera laços frágeis, vínculos descartáveis e, muitas vezes, solidão.
Do ponto de vista da saúde mental, a cultura da aparência é insustentável. Viver de performance, sem espaço para a verdade emocional, torna-se psicologicamente prejudicial.
Como resolver?
É necessário resgatar o valor da autenticidade, da escuta empática e da construção de vínculos verdadeiros. Só assim será possível cultivar um interior saudável, relações humanas mais profundas e viver de forma mais equilibrada, socialmente.




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